Janeiro de 1840, Teixeira Nunes fica no comando de trezentos e trinta soldados, Garibaldi no comando de cento e cinquenta e cavalarianos, Anita fica encarregada do transporte da munição com vinte soldados, que deveria ficar na retaguarda guarnecendo a munição.
Após três dias de caminhada forçada, Teixeira ordena para acampar as margens do Rio Marombas, Campos das Forquilhas, proximidades da vila de Curitibanos, onde julgava que o inimigo cruzaria em direção de Lages.
Teixeira pede a Garibaldi organizar a vigilância, enquanto descansaria um pouco da viagem forçada. Garibaldi forma quatro grupos com dez soldados e distribui nos arredores, evitando assim um ataque surpresa do inimigo. Ele manda Anita, as carroças e os vinte soldados se abrigarem no Capão de Mato, enquanto a coluna do Teixeira ficaria no campo, ele ficaria na retaguarda numa coxilha próxima.
O coronel Albuquerque acampa dias antes nos Campos das Forquilhas, a poucos quilômetros dos republicanos. Escalam vários piquetes de soldados com o objetivo de vasculhar os arredores na existência de Farrapos, o que veio acontecer no dia 12 de janeiro, então começa a organizar o plano de ataque com os seus oficiais. O coronel Mello de Albuquerque não queria que acontecesse o mesmo que em Rio Pardo, onde foi derrotado pelos republicanos.
Coronel ordena que os piquetes, sob o comando do sargento Gonçalves Padilha e do capitão Hipólito aproveitassem a escuridão e fizessem ataques rápidos, em seguida retornando ao acampamento, assim poderia saber com exatidão sua localização. Com isso, o coronel poderia formar duas colunas e pegá-los num fogo cruzado.
Aproximadamente meia noite, o piquete do capitão Hipólito se encontra com um dos grupos formado por Garibaldi, com a finalidade de evitar um ataque surpresa, trocam alguns tiros na escuridão do Capão de Mato e desaparecem em seguida. Garibaldi e os demais ouvem os tiros, se prepararam para contra-atacar os legalistas. Mas o silêncio volta a reinar nos Campos da Forquilha, pelo menos até o amanhecer.
O coronel Melo Manso, reúne novamente os piquetes e os coloca sob as ordens do sargento Padilha, tendo a missão de dar combate frontal aos Farrapos, onde deveria trazê-los ao Capão de Mato. O coronel informa que deixaria mais uns soldados no local, tendo o objetivo de apoiá-los. Após deveriam levá-los à margem do rio, onde estaria outro grupo de soldados para lhes auxiliar no confronto. Os republicanos estando à margem do Marombas, assim as duas colunas pegariam num fogo cruzado, apoiado pelos sobreviventes do grupo, os quais seriam as iscas.
Teixeira Nunes e seus soldados ficam poucos minutos sob fuzilaria dos piquetes, imediatamente se recompõem, ordena que a cavalaria de Garibaldi persiga os legalistas, que recuam até o Capão de Mato, onde entra em ação a tropa de apoio, mesmo assim Garibaldi continua avançando contra os legalistas. Teixeira ordena para seus soldados avançar contra o inimigo, que empreendem fuga desordenada às margens do Rio Marombas.
No momento que o grupo de Teixeira se aproxima da margem do Marombas, são pegos num fogo cruzado pelas duas colunas do coronel Melo Manso. Teixeira viu que tinha caído numa armadilha, não tendo outra opção senão ocupar o Capão de Mato, localizado numa pequena elevação próxima.
No Capão de Mato, Teixeira vendo-se perdido, grita a seus soldados para atirar contra os legalistas, mas como eles estavam em maior número, centenas de seus soldados caem à frente da intensa fuzilaria das colunas do coronel Melo Manso.
Anita ouve os primeiros tiros, ordena aos soldados ficar em alerta, pois teriam de proteger a munição. Ela certa de que os seus companheiros se encontravam cercados, ordena a seus soldados avançar, julgando que estavam necessitando de munição. Antes de chegar a seus companheiros cercados, são surpreendidos por um destacamento imperial, mas ela e nem os outros soldados se intimidam, revidam o ataque com coragem e determinação.
Anita mesmo vendo os seus soldados caírem abatidos, continua resistindo bravamente. Uma bala arranca o chapéu de sua cabeça, cortando também uma mecha de cabelo, mesmo assim não se amedronta, continua atirando contra os imperiais. Quando decide evadir do local, outra bala abate o seu cavalo, derrubando-a violentamente no chão. A se ver cercada pelos soldados legalistas, sente que não tinha outra opção, decide se entregar.
Ao ver que era Ana de Jesus, a surpresa do sargento João Gonçalves Padilha é enorme. Por mera casualidade ou capricho do destino, ele era o segundo pretendente a casar com Ana Maria de Jesus, recusado pela mãe Maria Antônia, devido ele ser um soldado do exército imperial.
Teixeira e aproximadamente dez soldados conseguem romper o cerco, evadindo-se desordenadamente do local. Em seguida se embrenham mata adentro, desaparecendo em direção da vila de Lages. Os republicanos têm quatrocentos e vinte e sete mortos, pois todos os feridos são sumariamente executados. Segundo fontes não oficiais, os imperiais têm mais de cem soldados mortos.
Garibaldi e sessenta e três cavaleiros ainda continuam cercados. Ele decide romper o cerco a tiro, forma três grupos. Enquanto um grupo corre até um ponto, os outros dois protege o recuo, assim consecutivamente, até estarem numa posição mais favorável. Garibaldi estava completamente esgotado fisicamente e o seu psicológico, em sua mente, povoava a mesma pergunta: Onde estava Anita? Estava morta? Presa ou se encontrava fora de perigo? Não podia sair a sua procura, além de ser muito arriscado, tinha a responsabilidade com a vida de seus soldados. Apesar de doer à alma e corroer o coração, teria de retornar a vila de Lages. Garibaldi e seus sessenta e três soldados embrenham mata adentro, chegando ao destino quatro dias depois, o trajeto para ele foi um martírio… O martírio da duvida.
Anita pede ao sargento Padilha para ver se Garibaldi não estava entre os mortos, mas ele recusa o pedido, informa-a que somente o coronel Albuquerque poderia autorizá-la. Então pede que a leve ao coronel, o que aceita imediatamente. As perdas entre os legalistas não se têm uma conta precisa, sabe-se que foram mais de cem soldados mortos.
A surpresa do coronel Melo Manso é também enorme, ao ver a sua frente uma mulher destemida. Tenta interrogá-la, humilha-a, dizendo que tinha um completo desprezo pelos rebeldes republicanos. Mas Anita permanece altiva, respondendo todas as perguntas friamente, não deixa se intimidar. O sargento Padilha vendo o sofrimento de Anita com a possível perda do marido, pede ao coronel para deixá-la confirmar, se acaso o seu corpo se encontrava entre os mortos no campo de batalha. O sargento se oferece em acompanhá-la com um grupo de soldados, assim evitando a sua fuga. Após certa insistência, consegue convencê-lo.
Sargento Padilha convoca seis soldados para acompanhar a prisioneira. E sob a luz de lampiões, Anita passa longas horas revolvendo os cadáveres espalhados pelos campos e capões de mato, sempre com o medo de encontrá-lo entre eles. A cada um que revolvia, crescia a sua esperança em encontrá-lo com vida.
Anita tinha muita esperança de Garibaldi ainda estar vivo, na certa debandaram para a vila de Lages com o restante dos soldados sobreviventes. Em sua mente povoa somente o mesmo pensamento, esperar uma oportunidade e fugir daquele lugar, se encontrando com seu amado. O que não demorou muito a acontecer, devido a euforia pela vitória contra os Farrapos, desencadeia uma incontrolável bebedeira entre eles, que dormitavam desorganizados pelo chão completamente bêbados. Anita encontrava-se amarrada numa barraca de campanha, sendo vigiada por quatro soldados, esses na sua visão era o pior dos obstáculos.
Ela escuta alguém conversando animadamente com os vigias, aguça os sentidos, querendo saber o que e com quem falavam, reconhece a voz do sargento Padilha, estava tecendo comentário sobre o combate com os Farrapos. Aos poucos diminui a conversa, até parar por completo, escutava somente os gritos ensandecidos de soldados bêbados.
Sargento Padilha entra na barraca, faz sinal para ela ficar quieta, corta a corda que prendem suas mãos, pede em seguida para lhe acompanhar, cortando com sua faca a lona traseira da barraca, entrando no Capão de Mato. Só então o sargento a informa que logo adiante tinha um cavalo amarrado numa árvore, com uma arma e um facão, pede para montá-lo e desaparecer rapidamente daquele lugar. Alerta-a de que cavalgue a beira do Rio Marombas, naquele lado era muito mais seguro, por não existir nenhum soldado de vigia.
Anita fica surpresa com atitude do sargento Padilha, lhe pergunta por que ele estava ajudando a fugir. Ele responde que sempre admirou o seu jeito rebelde, simplicidade e a sua beleza, mas frente do que tinha visto naquele combate, passou a admirá-la mais ainda, devido sua destreza de soldado e valentia. Era o tipo de mulher que sempre sonhou ter, mas era Garibaldi que amava, isso machucava muito o seu sentimento, mesmo assim queria-a longe daquele local.
Anita passa suavemente a mão áspera em seu rosto e beija-o, como forma de agradecimento. Padilha ordena para partir rápido, antes que descobrissem a sua fuga, então estaria em sérias complicações com o coronel Melo Manso. Anita caminha apressada por uns cinquenta metros volta-se em direção do sargento, olha-o por uns instantes com carinho, e desaparece em seguida entre as árvores.
O sargento retorna ao acampamento, começa beber até ficar completamente bêbado, porque não tinha o coração daquela mulher maravilhosa, também para ninguém desconfiar da cúmplice na fuga. Padilha caminha com certa dificuldade até uma árvore, mas não consegue chegar, desaba no meio do caminho inconsciente pela bebida em demasia.
No amanhecer do dia, coronel Melo Manso ordena ao capitão Hipólito reunir os cem soldados mais sóbrios, cavar uma vala grande no Capão de Mato, onde deveria enterrar os Farrapos e os soldados imperiais mortos. Soube pelo sargento Padilha que a prisioneira tinha fugido, ele informa-o que pretendia soltá-la na primeira vila. Informa também que, ficariam ali acampados por mais dois dias, após partiriam para Rio Negro, onde aguardariam a coluna do general Labatut, em seguida retornariam para expulsar os Farrapos da vila de Lages.
Janeiro de 1840, Anita encontra diversos obstáculos pelo caminho, devido não conhecer bem a região, tinha dúvidas se estava indo na direção de Lages. Nos primeiros quilômetros se aproxima de uma humilde casa, pede algo para beber e comer. Imediatamente lhe oferecem um café e umas fatias de pão, a qual come com vontade, aproveita para perguntar sobre o exército dos Farrapos. O homem responde: Que tinham pegado a direção do Rio Canoas, com certeza estavam indo para vila de Lages. Anita vê o ponche de Garibaldi pendurado na parede, oferece o seu que era novo em troca daquele, o que foi aceito imediatamente pela mulher. Os camponeses pedem para pernoitar na casa, partindo ao amanhecer. Anita recusa, alega porque queria estar o quanto antes com Garibaldi, se realmente tivesse vivo. Agradece os camponeses, se despede e desaparece na escuridão da mata. Acontecendo oito dias depois nas proximidades do Rio Caveiras.
No dia 18 de Março de 1840, coronel Teixeira ordena para levantar acampamento, partem para Setembrina por não ter nenhum contato com Canabarro, que com certeza estava lutando em outra frente em solo rio-grandense. Chegam ao destino em principio de abril com os cavalos estropiados, mentes esgotadas e corpos completamente cansados.
Texto e fotos do livro Revolução Farroupilha, publicado e disponível no Domínio Público do MEC.