Epílogo – Heróis da Liberdade

O lendário Guisepp Maria Garibaldi prossegue o seu destino, predestinado a ser o “Herói da Liberdade”. Ele cede a sua experiência em guerrilha, determinação e coragem na Luta das Revoluções de Gibraltar, Tânger, América Central, Costa do Pacífico e Lima, conhecendo novas vitórias e amargando derrotas entre os anos de 1854 á 1859.

Retorna à Itália em 1859 na guerra da Sardenha com a Áustria, se alia a Cavuor, e reinicia a batalha da unificação. Os austríacos são derrotados em Varese e San Fermo, libertam as terras Alpinas até Tirol. Assume o comando de divisão Sarda e junto com o general Fanti formam outra Revolução, sendo logo abafada em Piemonte. Então se retira a ilha Caprera, onde compra a metade do território, fixando ali sua residência.

Em Março de 1860 se revolta com todos os nobres da casa de Savoia, por ter cedido Nizza à França, reunindo forças novamente com Cavuor, montam uma expedição para auxiliar os rebeldes Sicilianos, inclusive seu filho Menotti se encontra entre o grupo, onde permanece em combate até Setembro 1860, retirando-se novamente a ilha Caprera até 1862.

Retorna 1862, ele e Menotti ainda sonham com a unificação, são derrotados em Aspromonte – Calábria, Garibaldi é ferido e preso, anistiado um mês depois. Frente ao clamor popular passa presidir a comissão central Italiana até 1866.

Em 1864 viaja para Inglaterra, onde é recebido como símbolo mundial nacionalista. Em 1866 ele e Menotti retornam guerra do Tirol contra os Austríacos, após sucessivas vitórias, obedece à ordem superior para abandonar as terras ocupadas.

Em 1867, ele e Menotti tentam novamente libertar Roma, são derrotados pela tropa do Papa e francesas, foi feito prisioneiro e meses depois liberado. Em seguida ele e Menotti entram na guerra franco-prussianos como voluntários nos anos de 1870 e 1871, combatem para libertar Autun, Lentanay e Dijon. Apesar dos apelos do governo, decidem retornar á Ilha Caprera.

Finalmente Roma sendo capital do Império Italiano, foi eleito deputado até o ano de 1875. Depois se aposenta e passa receber uma pensão do governo, devido os serviços prestados a nação Italiana. Novamente retorna á Ilha Caprera, onde morre em dois de junho de 1882.

Anita Garibaldi foi sepultada sete vezes: A primeira em cinco de agosto de 1849 em Landa Pastorana, proximidades da fazenda Guiccioli.

A segunda em 11 de agosto de 1849 no cemitério da igreja Mandriolle.

A terceira em 1859 foi sepultada num lugar secreto, temendo que o inimigo violasse a sepultura.

A quarta no mesmo ano, algumas semanas depois da anterior, descoberto pelo padre Francesco Burzatti, sendo devolvida e enterrada no interior da igreja de Mandriolle.

A quinta em 22 de setembro de 1859, onde Garibaldi, Riciotti e Terezita levam seus restos mortais para Nizza, enterrando-a junto com a mãe Rosa e o pai Domenico.

A sexta em 1931, devido Anita estar em solo francês, o governo Mussolini requisita os seus restos mortais, sendo sepultado provisoriamente no cemitério de Staglieno em Gênova.

A sétima em dois de junho de 1932, enterrada no monumento em sua memória no Gianícolo, onde permanece até hoje.

 

Texto final do livro “Heróis da Liberdade”, publicado e disponível no MEC

Luta Pela Unificação da Itália – Parte II

A Itália submissa, dividida e humilhada, lentamente solta os grilhões que aprisionam o sentimento de liberdade. As heroicas batalhas na Revolução Farroupilha e Guerra da Prata de Giusepp e Anita Garibaldi, assim como a legião da morte ou Garibaldina, tornam-se lendárias em todas as partes da Itália, descritas em detalhes num pequeno livro de Giovanni Batista Cúneo, já o olhavam como único líder capaz de realizar o sonho das sociedades secretas e de todo povo italiano.

Aos poucos acordam de um pesadelo e começam viver a esperança, ressurgindo as chamas ardentes de uma nova Revolução, que consumiria num futuro próximo os reinos e ducados opressores da liberdade.

A morte do Papa Gregório XVI em 1846, que era o alicerce da dominação dos Habsburgos na península, sendo eleito o Cardeal liberal e antiaustríaco, João Maria Mastaí Ferrettí – Pio IX para substituir o santo pontífice.

O padre Vicente Gioberti – neo-guelfista, proscrito desde 1831 pelo Vaticano, tinha grande simpatia por uma Itália independente e unificada em torno do papado.

Inicia-se uma Revolução na conduta estagnada do Vaticano, acaba a censura dos Jesuítas à comissão Laica, dando certa liberdade política aos homens dentro de sua fronteira, anistiando todos condenados à morte por sedição e propaganda.

Em Junho, o Papa Pio IX dispensa quatro mil guardas suíços do Vaticano, que pesam inúmeras acusações contra a repressão aos liberais e manifestações populares.

Os cardeais reacionários são transferidos de posto, nova comissão é formada para fazer uma revisão detalhada, às leis e dividir melhor as verbas na política de repreensão contra o Papado.

A população mais pobre recebe ajuda financeira e espiritual, após reabre a universidade de Bolonha, fechada anteriormente por influência de reacionários franceses.

Frente de muitas reformas pelo Papa Pio IX, Ciceruacchio denuncia publicamente o Cardeal Lambruschini, o coronel Freddi da guarda papalina e o chefe da policia Grassellini, alega que tinham criado um grupo para promover atentados e arruaças públicas, com o objetivo de anular o intento de dissolver a guarda nacional, obrigando também a deportar todos os líderes liberais. Após a revelação, mil e quinhentos homens de Viena arrombam as portas da cidade para expressar o liberalismo pacífico triunfante.

O reinado de Luiz Felipe na França estava preste a desmoronar, devido à crise econômica e as inúmeras manifestações populares motivadas pelas dezenas de sociedades secretas, em especial a Loja Maçônica, que possuía vários membros honorários nos quadros do poder. Começa a formar o rosto igualitário e liberal francês, que definiria ainda grandes acontecimentos em nações do Velho e Novo Mundo.

Seguindo o exemplo Mazziano e Maçônico viria dos estudantes da Áustria, mas por falta de um líder intelectual e um general da guerra, as reformas surgem somente pela metade e quase todas com prognósticos ao fracasso. O mesmo acontece com o movimento libertador e reformista dos húngaros, liderado Kossuth.

O movimento italiano e alemão era completamente diferente aos demais, porque pregavam a Igualdade, Unidade, Fraternidade e a Liberdade, tendo adesão de quase toda burguesia e a totalidade popular. Os alemães e italianos queriam parte de seu território dominado pelos austríacos, abrangendo Habsburgos, Tirreno ao Adriático, Nápoles e Veneza que tinha apoio totalitário do santo pontífice.

A “Jovem Itália” e Carbonários possuíam a simpatia de toda população da Itália dividida, que os fortalecia para os eventos futuros da unificação. Esperam somente chegada do lendário Giusepp Maria Garibaldi, a heroína Anita Garibaldi e a legião da morte.O rei Carlos Alberto da Sardenha e Piemonte sente a força do novo quadro político e social, imposto pelas sociedades secretas e a massa popular, decide não expor seu governo e abre uma brecha para democracia. O mesmo sabia que somente estava retardando o inevitável, pois os recentes acontecimentos populares revelavam uma futura Itália unificada, era somente uma questão do próprio tempo.

Texto do livro “Heróis da Liberdade”, publicado e disponível no Domínio Público do MEC.

Itália Dividida – Parte 1

 

Início do século XIX, à frente de uma Itália dividida, humilhada e escravizada, prolifera as sociedades secretas, cujo objetivo principal era sua unificação. Entre as muitas sociedades secretas, destacavam-se os:

Carbonários (Chama Luminosa): De origem francesa, seguidores da filosofia milenar Maçônica, que o poder dominante francês acabou fechando todas as suas lojas, perseguindo-os e executando quase todos os seus líderes e inúmeros membros. Os sobreviventes são obrigados asilar-se em outras nações, retornam depois de certo tempo e permanecem no anonimato.

Aos poucos, secretamente, os Carbonários, buscam adeptos nas diversas classes superiores da sociedade, na nobreza, universitários, clero romano, exércitos e a burguesia enriquecida, assim reiniciam a esperança da unificação italiana.

Federazzones: Mantinham uma expressiva atuação na Lombardia, mas com a insistência em permanecê-la como sociedade secreta, teve pouca impressão popular contra os governos dominantes, obrigando-os adotar os ideais inovadores Mazzianos.

Jovem Itália: Tendo ramificações dos Carbonários, Maçons e dos Federaziones. Um de seus fundadores, Giusepp Mazzini, julgando ser de vital importância agir como uma sociedade pública, levando a filosofia de Liberdade, Igualdade e Fraternidade às classes mais humildes, criando assim, raízes fortes e sustentáveis contra os governos dominantes da nação fragmentada.

Além dessa inovação e o seu ideal republicano, ainda possuía um dom excepcional de orador e carismático líder de multidões, que alimentava os sonhos patrióticos de união e esperança de uma nova Itália. A princípio, Mazzini pregava esses ideais somente aos injustiçados conterrâneos, obrigando-o a buscar asilo político diversas vezes, retornando após o seu nome cair no esquecimento dos governos. A sua gloriosa persistência nos ideais liberais cria inúmeras sementes, que se propagam no Velho e no Novo Mundo.

Todas as sociedades secretas ou públicas tinham o mesmo objetivo, a independência e a unificação italiana, mesmo que para isso tivessem de empunhar armas, consegui-la por meio da violência ou à custa de centenas de mártires pela causa republicana.

O panorama da Itália retalhada na época era: A Áustria ocupava o Tirol, Dalmácia, Veneza e parte de Lombardia. Os Estados da Igreja Ou Pontifícios dominavam dezoito delegações, que compreendiam quarenta e quatro distritos com seiscentos e vinte e seis comunas.

Os reinos de Nápoles e Sardenha viviam em permanente intriga com os ducados de Parma, Módena e Toscana, visando alargarem as suas fronteiras. Os constantes conflitos entre os governantes acendem novamente a chama de unificação da Itália e incentiva os líderes abolicionistas, levando os patriotas a conspirarem contra os regimes dominantes e injustos.

O Papado renova as excomunhões contra as sociedades secretas e todos os seus simpatizantes, desencadeando centenas de homicídios políticos. O atentado contra a vida de Rivarola teve como conseqüência: inúmeras pessoas foram condenadas à morte, sem terem nenhum direito de defesa. O acontecido exalta o pensamento do povo, cria mártires da liberdade e forma o rosto de unificação da Itália.

A população foi ao encontro dos ideais Mazzianos, entregam-se de corpo e alma na futura revolução. Como Mazzini, era um intelectual e notável idealista republicano, mas não tinha muita experiência militar ou conhecimento de guerrilha, ao movimento revolucionário, necessitava com urgência de um senhor da guerra, que o levasse a realizar o maior de todos os sonhos… A Jovem Itália.

Texto e foto do livro Heróis da Liberdade, publicado e disponível no Domínio Público do MEC.

Batalha de Curitibanos – Revolução Farroupilha

 

              Janeiro de 1840, Teixeira Nunes fica no comando de trezentos e trinta soldados, Garibaldi no comando de cento e cinquenta e cavalarianos, Anita fica encarregada do transporte da munição com vinte soldados, que deveria ficar na retaguarda guarnecendo a munição.

Após três dias de caminhada forçada, Teixeira ordena para acampar as margens do Rio Marombas, Campos das Forquilhas, proximidades da vila de Curitibanos, onde julgava que o inimigo cruzaria em direção de Lages.

Teixeira pede a Garibaldi organizar a vigilância, enquanto descansaria um pouco da viagem forçada. Garibaldi forma quatro grupos com dez soldados e distribui nos arredores, evitando assim um ataque surpresa do inimigo. Ele manda Anita, as carroças e os vinte soldados se abrigarem no Capão de Mato, enquanto a coluna do Teixeira ficaria no campo, ele ficaria na retaguarda numa coxilha próxima.

O coronel Albuquerque acampa dias antes nos Campos das Forquilhas, a poucos quilômetros dos republicanos. Escalam vários piquetes de soldados com o objetivo de vasculhar os arredores na existência de Farrapos, o que veio acontecer no dia 12 de janeiro, então começa a organizar o plano de ataque com os seus oficiais. O coronel Mello de Albuquerque não queria que acontecesse o mesmo que em Rio Pardo, onde foi derrotado pelos republicanos.

Coronel ordena que os piquetes, sob o comando do sargento Gonçalves Padilha e do capitão Hipólito aproveitassem a escuridão e fizessem ataques rápidos, em seguida retornando ao acampamento, assim poderia saber com exatidão sua localização. Com isso, o coronel poderia formar duas colunas e pegá-los num fogo cruzado.

Aproximadamente meia noite, o piquete do capitão Hipólito se encontra com um dos grupos formado por Garibaldi, com a finalidade de evitar um ataque surpresa, trocam alguns tiros na escuridão do Capão de Mato e desaparecem em seguida. Garibaldi e os demais ouvem os tiros, se prepararam para contra-atacar os legalistas. Mas o silêncio volta a reinar nos Campos da Forquilha, pelo menos até o amanhecer.

O coronel Melo Manso, reúne novamente os piquetes e os coloca sob as ordens do sargento Padilha, tendo a missão de dar combate frontal aos Farrapos, onde deveria trazê-los ao Capão de Mato. O coronel informa que deixaria mais uns soldados no local, tendo o objetivo de apoiá-los. Após deveriam levá-los à margem do rio, onde estaria outro grupo de soldados para lhes auxiliar no confronto. Os republicanos estando à margem do Marombas, assim as duas colunas pegariam num fogo cruzado, apoiado pelos sobreviventes do grupo, os quais seriam as iscas.

Teixeira Nunes e seus soldados ficam poucos minutos sob fuzilaria dos piquetes, imediatamente se recompõem, ordena que a cavalaria de Garibaldi persiga os legalistas, que recuam até o Capão de Mato, onde entra em ação a tropa de apoio, mesmo assim Garibaldi continua avançando contra os legalistas. Teixeira ordena para seus soldados avançar contra o inimigo, que empreendem fuga desordenada às margens do Rio Marombas.

No momento que o grupo de Teixeira se aproxima da margem do Marombas, são pegos num fogo cruzado pelas duas colunas do coronel Melo Manso. Teixeira viu que tinha caído numa armadilha, não tendo outra opção senão ocupar o Capão de Mato, localizado numa pequena elevação próxima.

No Capão de Mato, Teixeira vendo-se perdido, grita a seus soldados para atirar contra os legalistas, mas como eles estavam em maior número, centenas de seus soldados caem à frente da intensa fuzilaria das colunas do coronel Melo Manso.

Anita ouve os primeiros tiros, ordena aos soldados ficar em alerta, pois teriam de proteger a munição. Ela certa de que os seus companheiros se encontravam cercados, ordena a seus soldados avançar, julgando que estavam necessitando de munição. Antes de chegar a seus companheiros cercados, são surpreendidos por um destacamento imperial, mas ela e nem os outros soldados se intimidam, revidam o ataque com coragem e determinação.

Anita mesmo vendo os seus soldados caírem abatidos, continua resistindo bravamente. Uma bala arranca o chapéu de sua cabeça, cortando também uma mecha de cabelo, mesmo assim não se amedronta, continua atirando contra os imperiais. Quando decide evadir do local, outra bala abate o seu cavalo, derrubando-a violentamente no chão. A se ver cercada pelos soldados legalistas, sente que não tinha outra opção, decide se entregar.

Ao ver que era Ana de Jesus, a surpresa do sargento João Gonçalves Padilha é enorme. Por mera casualidade ou capricho do destino, ele era o segundo pretendente a casar com Ana Maria de Jesus, recusado pela mãe Maria Antônia, devido ele ser um soldado do exército imperial.

Teixeira e aproximadamente dez soldados conseguem romper o cerco, evadindo-se desordenadamente do local. Em seguida se embrenham mata adentro, desaparecendo em direção da vila de Lages. Os republicanos têm quatrocentos e vinte e sete mortos, pois todos os feridos são sumariamente executados. Segundo fontes não oficiais, os imperiais têm mais de cem soldados mortos.

Garibaldi e sessenta e três cavaleiros ainda continuam cercados. Ele decide romper o cerco a tiro, forma três grupos. Enquanto um grupo corre até um ponto, os outros dois protege o recuo, assim consecutivamente, até estarem numa posição mais favorável. Garibaldi estava completamente esgotado fisicamente e o seu psicológico, em sua mente, povoava a mesma pergunta: Onde estava Anita? Estava morta? Presa ou se encontrava fora de perigo? Não podia sair a sua procura, além de ser muito arriscado, tinha a responsabilidade com a vida de seus soldados. Apesar de doer à alma e corroer o coração, teria de retornar a vila de Lages. Garibaldi e seus sessenta e três soldados embrenham mata adentro, chegando ao destino quatro dias depois, o trajeto para ele foi um martírio… O martírio da duvida.

Anita pede ao sargento Padilha para ver se Garibaldi não estava entre os mortos, mas ele recusa o pedido, informa-a que somente o coronel Albuquerque poderia autorizá-la. Então pede que a leve ao coronel, o que aceita imediatamente. As perdas entre os legalistas não se têm uma conta precisa, sabe-se que foram mais de cem soldados mortos.

A surpresa do coronel Melo Manso é também enorme, ao ver a sua frente uma mulher destemida. Tenta interrogá-la, humilha-a, dizendo que tinha um completo desprezo pelos rebeldes republicanos. Mas Anita permanece altiva, respondendo todas as perguntas friamente, não deixa se intimidar. O sargento Padilha vendo o sofrimento de Anita com a possível perda do marido, pede ao coronel para deixá-la confirmar, se acaso o seu corpo se encontrava entre os mortos no campo de batalha. O sargento se oferece em acompanhá-la com um grupo de soldados, assim evitando a sua fuga. Após certa insistência, consegue convencê-lo.

Sargento Padilha convoca seis soldados para acompanhar a prisioneira. E sob a luz de lampiões, Anita passa longas horas revolvendo os cadáveres espalhados pelos campos e capões de mato, sempre com o medo de encontrá-lo entre eles. A cada um que revolvia, crescia a sua esperança em encontrá-lo com vida.

Anita tinha muita esperança de Garibaldi ainda estar vivo, na certa debandaram para a vila de Lages com o restante dos soldados sobreviventes. Em sua mente povoa somente o mesmo pensamento, esperar uma oportunidade e fugir daquele lugar, se encontrando com seu amado. O que não demorou muito a acontecer, devido a euforia pela vitória contra os Farrapos, desencadeia uma incontrolável bebedeira entre eles, que dormitavam desorganizados pelo chão completamente bêbados. Anita encontrava-se amarrada numa barraca de campanha, sendo vigiada por quatro soldados, esses na sua visão era o pior dos obstáculos.

Ela escuta alguém conversando animadamente com os vigias, aguça os sentidos, querendo saber o que e com quem falavam, reconhece a voz do sargento Padilha, estava tecendo comentário sobre o combate com os Farrapos. Aos poucos diminui a conversa, até parar por completo, escutava somente os gritos ensandecidos de soldados bêbados.

Sargento Padilha entra na barraca, faz sinal para ela ficar quieta, corta a corda que prendem suas mãos, pede em seguida para lhe acompanhar, cortando com sua faca a lona traseira da barraca, entrando no Capão de Mato. Só então o sargento a informa que logo adiante tinha um cavalo amarrado numa árvore, com uma arma e um facão, pede para montá-lo e desaparecer rapidamente daquele lugar. Alerta-a de que cavalgue a beira do Rio Marombas, naquele lado era muito mais seguro, por não existir nenhum soldado de vigia.

Anita fica surpresa com atitude do sargento Padilha, lhe pergunta por que ele estava ajudando a fugir. Ele responde que sempre admirou o seu jeito rebelde, simplicidade e a sua beleza, mas frente do que tinha visto naquele combate, passou a admirá-la mais ainda, devido sua destreza de soldado e valentia. Era o tipo de mulher que sempre sonhou ter, mas era Garibaldi que amava, isso machucava muito o seu sentimento, mesmo assim queria-a longe daquele local.

Anita passa suavemente a mão áspera em seu rosto e beija-o, como forma de agradecimento. Padilha ordena para partir rápido, antes que descobrissem a sua fuga, então estaria em sérias complicações com o coronel Melo Manso. Anita caminha apressada por uns cinquenta metros volta-se em direção do sargento, olha-o por uns instantes com carinho, e desaparece em seguida entre as árvores.

O sargento retorna ao acampamento, começa beber até ficar completamente bêbado, porque não tinha o coração daquela mulher maravilhosa, também para ninguém desconfiar da cúmplice na fuga. Padilha caminha com certa dificuldade até uma árvore, mas não consegue chegar, desaba no meio do caminho inconsciente pela bebida em demasia.

No amanhecer do dia, coronel Melo Manso ordena ao capitão Hipólito reunir os cem soldados mais sóbrios, cavar uma vala grande no Capão de Mato, onde deveria enterrar os Farrapos e os soldados imperiais mortos. Soube pelo sargento Padilha que a prisioneira tinha fugido, ele informa-o que pretendia soltá-la na primeira vila. Informa também que, ficariam ali acampados por mais dois dias, após partiriam para Rio Negro, onde aguardariam a coluna do general Labatut, em seguida retornariam para expulsar os Farrapos da vila de Lages.

Janeiro de 1840, Anita encontra diversos obstáculos pelo caminho, devido não conhecer bem a região, tinha dúvidas se estava indo na direção de Lages. Nos primeiros quilômetros se aproxima de uma humilde casa, pede algo para beber e comer. Imediatamente lhe oferecem um café e umas fatias de pão, a qual come com vontade, aproveita para perguntar sobre o exército dos Farrapos. O homem responde: Que tinham pegado a direção do Rio Canoas, com certeza  estavam indo para vila de Lages. Anita vê o ponche de Garibaldi pendurado na parede, oferece o seu que era novo em troca daquele, o que foi aceito imediatamente pela mulher. Os camponeses pedem para pernoitar na casa, partindo ao amanhecer. Anita recusa, alega porque queria estar o quanto antes com Garibaldi, se realmente tivesse vivo. Agradece os camponeses, se despede e desaparece na escuridão da mata. Acontecendo oito dias depois nas proximidades do Rio Caveiras.

No dia 18 de Março de 1840, coronel Teixeira ordena para levantar acampamento, partem para Setembrina por não ter nenhum contato com Canabarro, que com certeza estava lutando em outra frente em solo rio-grandense. Chegam ao destino em principio de abril com os cavalos estropiados, mentes esgotadas e corpos completamente cansados.

Texto e fotos do livro Revolução Farroupilha, publicado e disponível no Domínio Público do MEC.

Final da República Populista e Inicio do Regime Militar

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Janeiro de 1961, assim que assumem a presidência da república, acusa JK de deixar em ruína a economia brasileira, e promete estabilizar a economia em curto espaço de tempo – Valoriza a moeda em relação ao dólar – Corta os subsídios do trigo e gasolina – Congela os salários – Dificulta os empréstimos aos empresários – Diminui a emissão de dinheiro. As medidas possuem dois lados da moeda: Enxuga um pouco os gastos do governo, mas ainda os gastos são maiores que a receita arrecadada. Já por outro lado, faz os preços dos alimentos aumentar consideravelmente.

Os sindicatos e as camadas populares fazem diversos protestos contra o desemprego e a inflação. Os empresários reclamam das restrições dos créditos que prejudicam os seus lucros, assim são obrigados a demitir funcionários. Inúmeros setores nacionalistas, elite militares, deputados e senadores, intelectuais, mídia escrita e falada acusam Jânio de estar submisso ao FMI, porque tomava medidas imposta pelo organismo financeiro.

No objetivo de reconquistar o apoio popular, toma medidas polêmicas: Proíbe o uso de biquíni nas praias – Proíbe as rinhas de galo – A corrida de cavalos em certos dias da semana – Cria uma equipe para investigar os suspeitos de corrupção, remessa ilegal de dinheiro para o exterior – Recebe o ditador Fidel Castro – Condecora o líder revolucionário Che Guevara – Reata as relações diplomáticas com URSS e a China comunista.

O jornalista Carlos Lacerda, antes acusava Jânio de estar submisso ao FMI, agora passa acusá-lo de abrir as portas ao comunismo internacional. As empresas multinacionais e o presidente americano, políticos conservadores e de oposição, imprensa escrita e falada desencadeia uma propaganda contra Jânio Quadros.

Não resistindo toda aquela pressão, no dia 25 de agosto de 1961, renuncia o cargo ao congresso nacional e revela os motivos numa carta a nação: “Forças terríveis e influentes levantam-se contra mim e me intrigam ou difamam. Se permanecesse, não manteria a confiança popular e tampouco a tranqüilidade, ora quebradas e indispensáveis ao exercício de minha função. Muitos inimigos me chamarão de covarde, eu digo que é preciso ter coragem para renunciar o cargo presidencial”.

A constituição é clara, na renuncia do presidente assume o seu vice, mas como Jango encontrava-se em visita oficial na China, a presidência é entregue a Ranieri Mazzilli, presidente da câmara dos deputados. Os demais partidos políticos, elite da sociedade e das forças armadas, o embaixador americano e as multinacionais, tentam impedir a posse de Jango, acusando-o de ser um perigoso comunista.

O governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, cunhado de João Goulart, tendo apoio do general Machado Lopes no comando do III exército, cria a “Frente Legalista”, garantindo a posse de Jango e o cumprimento da constituição brasileira.

Após muita discussão entre Jango, deputados, senadores e elite das forças armadas, chegam em setembro de 1961 a um consenso, instituindo o sistema constitucional parlamentarista. Jango assume a presidência no mesmo dia, mas é retirado parte de seu poder, que passa a Tancredo Neves – primeiro ministro nomeado pelos deputados e senadores. Novamente na história do Brasil, o cargo de presidente passa ser uma figura decorativa, pois toda emenda ou projeto de lei devia possuir o aval do primeiro ministro e congresso nacional.

O novo quadro político, não agrada a UDN e tampouco o alto comando militar, isso não ajudaria na solução dos problemas que assolava a economia, só complicaria mais a situação, porque o poder de decisão concentrava nas mãos dos congressistas.

As terras na região norte, nordeste e centro-oeste em sua maioria se encontravam nas mãos de uns poucos ricos fazendeiros, políticos, empresários e ricos comerciantes, além de ter baixa produtividade, formando um panorama social de completa miséria.

Os latifundiários conseguem inúmeros empréstimos com o governo estadual e federal, enquanto os pequenos proprietários não têm condições de produzir o sustento da família. A inexistência de uma legislação aos trabalhadores rurais, onde tivesse direito do registro na carteira profissional, assistência médica, aposentadoria e um teto salarial mínimo. Nesse quadro desumano, eram explorados constantemente pelos pequenos proprietários e os grandes latifundiários, então se obrigam emigrar para região sudeste, aumentando a quantidade de miseráveis nas médias e capitais dos estados.

A CNBB – Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil, declara a necessidade urgente de uma reforma agrária, o governo deveria distribuir as terras dos latifundiários aos camponeses, inclusive dar incentivos no objetivo de tirá-los da total miséria. Os padres católicos, intelectuais liberais e uns poucos políticos humanistas passam a organizar as Ligas Campesinas e os sindicatos rurais, visando alterar o quadro desumano na área rural. O fato trouxe temor nos latifundiários, que acusa os envolvimentos de comunistas e solicita uma atitude imediata do congresso.

Nas cidades a situação não se encontrava diferente, devido o congelamento de salários e o constante aumento de preços dos aluguéis e alimentos. Vendo-se injustiçados, os trabalhadores formam a CGT – Central Geral dos Trabalhadores. PUA – Pacto de Unidade e Ação. UNE – Unidade Nacional dos Estudantes. CPC – Centro Popular de Cultura, visando melhorias na qualidade de vida na sociedade.

Frente o descontentamento popular com o sistema parlamentarista, a UDN e a elite militar pressionam o congresso fazer um plebiscito nacional. Em janeiro de 1963, o povo vota “Não” ao sistema parlamentar, e Jango assume legalmente como presidente da república. Imediatamente reúne-se com os seus ministros, elaboram o Plano Trienal: Combater a inflação – Retomar o desenvolvimento econômico – Melhorar as condições de vida dos pobres nas cidades e campo – Reforma do sistema bancário – Reforma tributária – Reforma agrária, que envia para aprovação no congresso nacional.

O Plano Trienal prejudicava os interesses dos banqueiros, industriais, comerciantes, sonegadores de impostos, latifundiários e principalmente os políticos corruptos, que passaria ser crime a compra de votos. Como o presidente não tinha a maioria no congresso, é rejeitado o Plano.

Novembro de 1963, Jango não tendo outra opção, pressionado pelos políticos conservadores, sindicatos de classes, elite da sociedade e o alto comando militar, decide comparecer em diversos comícios da CGT, PUA, UNE e CPC. O principal objetivo dessa atitude extrema visava levantar a população na aprovação de seu Plano Trienal pelo congresso. Em março de 1963, comparece a assembléia de sargentos e suboficiais no Automóvel Clube do Brasil – Rio de Janeiro. A sua presença leva os sargentos e suboficiais rebelar-se contra a hierarquia militar. O alto comando militar, vêem o acontecido como um ato de insubordinação, que desrespeitava os princípios da hierarquia militar, acusa-no publicamente de conspirar contra as forças armadas.

Março de 1964, Jango convoca a população para um comício na Estação Central do Brasil no Rio de Janeiro, onde reúnem mais de duzentas mil pessoas: Promete nacionalizar as refinarias de petróleo – Desapropriar as terras as margens das rodovias, ferrovias, áreas irrigadas por açudes construídos com o dinheiro público. O coronel Vernon Walters, o embaixador americano Lincoln Gordon, o vice-diretor da marinha americana e o secretário de estado americano Dean Rusk convencem os deputados, senadores e alto comando militar brasileiro, que deveriam tomar uma atitude imediata, ou Jango estalaria o regime comunista com o apoio da população.

O marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, marechal Artur da Costa e Silva aliam-se na conspiração com Magalhães Pinto, governador de Minas Gerais. Ordenam para o general Olimpio Mourão Filho, general Carlos Luis Guedes e general Cordeiro de Farias encaminhar-se para o Rio de Janeiro com seus tanques, artilharia pesada e todo o contingente de Juiz de Fora (MG).

Jango envia o general Antônio Carlos Muricy no comando do destacamento “Tiradentes” no objetivo de interceptar os rebeldes. Próximos a cidade de Três Rios, ele recebe ordens do marechal Odílio Denys para se unir ao movimento golpista.

O brigadeiro Francisco Teixeira informa Jango no Palácio das Laranjeiras – residência presidencial no Rio de Janeiro, manda Abelardo Jurema – ministro da justiça reunir o pelotão de fuzileiros ou policia especial do exército, atacar o Palácio Guanabara e prender o governador Carlos Lacerda. O ministro não cumpre as ordens, permanece ocioso com seu dever. O marechal Castelo Branco avisa Carlos Lacerda do golpe, aconselha fugir o mais rápido possível. Um dos tanques erra o caminho, em vez de dirigir para o Palácio das Laranjeiras segue ao Palácio Guanabara, e se posiciona na defesa da sede do governador.

Jango recebe os telegramas: Artur Virgilio do PTB, deputado e ministro Almino Afonso, general Assis Brasil – chefe da casa civil alerta-no do golpe, que deixa o Rio de Janeiro às dez horas da manhã em 1o de abril a bordo de um Viscount para Brasília. No dia seguinte sabe em detalhes sobre o golpe militar, embarca em outro avião com destino a Porto Alegre às duas horas da madrugada. Horas depois segue para sua fazenda na cidade de São Borja, em seguida ao exílio no Uruguai.

A deposição de Jango da presidência assume o governo provisório Ranieri Mazzilli – presidente da câmara dos deputados. Na verdade, o poder supremo se encontrava nas mãos do marechal Costa e Silva do exército, almirante Augusto Rademarker da marinha e do brigadeiro Francisco de Melo da aeronáutica. O comando supremo da revolução institui o famoso AI–1, cassando os direitos políticos de: Jânio Quadros, Jango, Juscelino Kubitschek, Miguel Arraes, Celso Furtado, Darci Ribeiro, Leonel Brizola e dezenas de outros políticos influentes, líderes sindicais, jornalistas e intelectuais liberais, que visse apresentar perigo à ditadura.

Texto do livro Revolta dos Excluídos Publicado e disponível no Domínio Público do MEC. – Foto Meninos e Adolescentes da Ditadura